Degradação da Caatinga avança no Estado


O Dia Nacional da Caatinga é 20 de agosto; todavia, para os ambientalistas, não há motivo para comemoração no próximo domingo. Pesquisadores já catalogaram mais de 1.700 espécies vegetais deste bioma, das quais muitas são arbóreas de grande porte, como a Barriguda, Baraúna e a Aroeira. No entanto há uma perspectiva de ainda serem descobertas mais de mil espécies, pois ainda há pouco estudo e conhecimento.
Conforme membros do Movimento Pró-Árvore, um coletivo multidisciplinar lançado em setembro de 2011 na capital cearense, corremos o risco de perder aquilo que nem conhecemos, já que mais de 50 % do território do Semiárido está em franco processo de desertificação e os outros 50 % estão no mesmo caminho. Menos de 1% da área é protegida por áreas de preservação permanente. Nos períodos chuvosos, espécies de plantas herbáceas se abrem em flor, dentre as quais a malva, a malícia e a flor de tijirana. Juntas, representam um tesouro natural, ameaçado pela ação do homem.
Conscientização e conhecimento. Essas são as principais ferramentas utilizadas pelos técnicos do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) no Ceará no combate à degradação desse bioma. Embora desde outubro de 2011 a proteção das paisagens naturais notáveis, a proteção do meio ambiente, o combate à poluição em qualquer de suas formas e a preservação das florestas, da fauna e da flora tenham passado à responsabilidade de estados e municípios, os demais agentes públicos e da sociedade civil organizada também precisam agir.
Conforme dados do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), o Sertão Central abrange uma área de 15,6 mil km², composta pelas cidades de Banabuiú, Choró, Deputado Irapuan Pinheiro, Ibaretama, Milhã, Mombaça, Pedra Branca, Piquet Carneiro, Quixadá, Quixeramobim, Senador Pompeu e Solonópole. A população total dos 12 municípios é de 362.091 habitantes, dos quais 158.415 vivem na área rural, o que corresponde a 43,75% do total. É nela que estão as maiores áreas de degradação, explica o Ibama.
Para eles, a área e o número de municípios sob risco no Ceará é bem maior. Outros 12 foram incluídos no plano de formação de gestão ambiental pública.
Durante três dias (7, 8 e 9 de agosto), técnicos do Núcleo de Educação Ambiental e do Núcleo de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (PrevFogo) realizaram em Quixeramobim o curso "Introdução à gestão ambiental pública". O evento era dirigido aos secretários municipais do Meio Ambiente; todavia, da relação de convidados, apenas o titular da pasta de Boa Viagem, Aislan Melo Cavalcante, participou da capacitação. O restante enviou coordenadores e técnicos da área ambiental, explicou o técnico do Ibama Douglas Damaso dos Santos. "Uma demonstração do desinteresse e da preocupação dos gestores públicos com o seu próprio habitat", acrescentou.
Dentre outros, objetivo do evento é disseminar entre os representantes dos municípios da região conhecimentos para a gestão participativa dos recursos ambientais. Alternativas de enfrentamento dos problemas e conflitos socioambientais também atraíram o interesse do grupo, formado ainda por líderes comunitários. Os municípios priorizados foram Banabuiú, Boa Viagem, Canindé, Choró, Madalena, Pedra Branca, Quixadá, Quixeramobim e Santa Quitéria, onde o NEA e o PrevFogo desenvolvem trabalhos educativos com comunidades de agricultores com vistas à construção de alternativa ao uso do fogo.
Queimadas
Além dos incêndios acidentais, as queimadas realizadas para o cultivo de culturas de subsistência e até a produção de carvão, associadas à exploração vegetal descontrolada, são consideradas as principais causas do empobrecimento do solo e da extinção da mata nativa, ressaltou o analista ambiental do Ibama José Maria Barbosa da Silva.
Associados a todos esses problemas, segundo o Ministério do Meio Ambiente (MMA), a área desmatada da Caatinga chega a 46%. No Ceará, conforme a Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace), 80 mil hectares de áreas estão em processo de desertificação. As mais afetadas foram identificadas na macrorregião de Sobral, em Irauçuba, na Ibiapaba e Sertão de Inhamuns.
A Semace traçou a estratégia de recuperar 20 mil hectares por ano. A alternativa para o controle está na criação de mais unidades de conservação federais e estaduais nesse bioma. Também é preciso encontrar alternativas para o uso sustentável da sua biodiversidade, acrescenta o órgão estadual.

Fique por dentro

Carnaúba é árvore símbolo do Ceará
No dia 30 de março de 2004, através de decreto estadual, o ex-governador Lúcio Alcântara institui a Carnaúba, cujo nome científico é Copernicia prunifera, como a árvore símbolo do Ceará. O decreto estabeleceu ainda que o corte dessa árvore fica condicionado à autorização dos órgãos e entidades estaduais competentes. Pelos ambientalistas ficou conhecida como "árvore da vida", por uma série de utilidades para o homem.
As raízes da carnaubeira têm uso medicinal como eficiente diurético e antivenéreo; os frutos são um rico nutriente para a ração animal; o tronco é madeira de qualidade para construções; as palhas servem para a produção artesanal, adubação do solo e extração de cera, um insumo valioso utilizado na composição de diversos produtos industriais.

Diário do Nordeste

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