Em 18 de julho de 1967, dois aviões se tocaram no céu e deixaram no ar um rastro de mistério que perdura há 50 anos. Foi numa terça-feira de tempo bom, visibilidade praticamente ilimitada e nebulosidade insignificante. Retornando de Quixadá para Fortaleza, a bordo de um bimotor piper aztec e acompanhado de outros três passageiros, além do piloto e copiloto, estava o ex-presidente Humberto de Alencar Castelo Branco, único cearense a ter cumprido um mandato presidencial (1964-1967).
O primeiro governante da ditadura militar
(1964-1985) tinha perfil considerado “moderado” entre os altos escalões
das Forças Armadas. Em seu discurso de posse, em 15 de abril de 1964, o
cearense falava de “eleições em 1965”. Quando do acidente, havia
deixado o poder em um momento de ascensão do grupo chamado “linha
dura”, cuja liderança foi também exercida por seu sucessor, Arthur da
Costa e Silva. Era a primeira vez que Castelo visitava o Ceará desde
sua saída da presidência. Na noite anterior, havia visitado a escritora
Rachel de Queiroz, sua amiga.
Na viagem de volta, depois de
aproximadamente 40 minutos de voo, ocorreu o incidente que dividiria os
brasileiros. De um lado, aqueles que acreditavam (e ainda acreditam)
em conspiração seguida de assassinato. Do outro, os que creem em
fatalidade.
Vários fatores e imprevistos ocorridos, como atrasos
de passageiros e alterações no horário da viagem, tornam improvável que
o choque tenha sido intencional. Porém, a falta de transparência na
condução das investigações e perguntas até hoje sem respostas alimentam
especulações de crime com motivação política. Unanimidade, o caso se
tornou uma das maiores tragédias da aviação cearense e é a mais
controversa morte de um ex-presidente brasileiro.
A queda
Enquanto
se aproximava do aeroporto, já sobrevoando o bairro Mondubim, o avião
cedido pelo Governo do Ceará foi subitamente colhido por um jato
TF-33A, da Força Aérea Brasileira (FAB). O caça compunha esquadrilha de
quatro aeronaves e bateu “com precisão cirúrgica” com a ponta da asa
esquerda no leme de direção e quilha do piper, arrancando parte da
cauda da aeronave civil.
Do choque até o solo, a queda em giros
de parafuso chato foi acompanhada por uma agonia que durou
aproximadamente 1 minuto e 30 segundos. Desfecho mortal para o
ex-presidente, a educadora Alba Frota, o major Manuel Nepomuceno, o
irmão do marechal — Cândido Castelo Branco, e o comandante Celso Tinoco
Chagas. Somente o copiloto Emílio Celso Chagas, filho do piloto,
sobreviveu.
Enquanto isso, o caça retornou ao aeroporto, onde
pousou normalmente, sem os tip-tanques, que ficavam nas pontas das asas
da aeronave. Um dos equipamentos foi arrancado na colisão e o outro
automaticamente ejetado, para evitar o desequilíbrio do TF-33A.
Em
seguida, vieram as investigações e conclusões duvidosas que
atravessaram meio século sem que ninguém fosse responsabilizado pelo
episódio. As apurações da Aeronáutica e órgão correlatos apontam para
acidente. Testemunhos de familiares e amigos das vítimas também. Mas as
teorias da conspiração ainda pairam sobre aquilo que não foi dito e
sobre o que ainda permanece oculto, sob a guarda dos militares.
por Thiago Paiva O POVO
por Thiago Paiva O POVO
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