Metade de 2016 já se passou e começam a aparecer sinais de reversão da
crise econômica, ainda que seja, pelo menos, nas expectativas dos
agentes econômicos. Na última terça-feira (19), por exemplo, o Fundo
Monetário Internacional (FMI) melhorou a projeção do desempenho
econômico do Brasil neste e no próximo ano, reduzindo em 0,5% a queda do
PIB prevista para 2016, quando deverá fechar em -3,3%.
Também já foram vistas melhoras no Índice da Confiança do Empresário
Industrial (Icei), que apresentou o quarto aumento consecutivo, em
julho, ao atingir 50,5 pontos, o maior registrado nos últimos 20 meses.
Já o Índice de Confiança do Consumidor (ICC), apesar de ter apresentado
uma retração de 6,2% em julho ante o mês anterior, atingiu 96,1 pontos,
superior ao percebido no mesmo mês do ano passado, quando alcançou 94
pontos.
Na avaliação do economista Ricardo Eleutério, o segundo semestre deste
ano e o primeiro de 2017 serão um período de transição, quando os
indicadores devem apresentar uma redução do ritmo de queda e
estabilização para que, em seguida, possam voltar a crescer. "Tudo
indica que, ao fim deste ano, tenhamos atingido o fundo do poço da
recessão e que um melhor comportamento deverá ser percebido no ano que
vem", aponta.
Outro indicador que demonstra o melhor desempenho da economia é a
redução da inflação. Eleutério destaca que, enquanto o índice terminou o
ano passado em 10,67%, a previsão é que, em 2016, a inflação fique em
torno de 7% e, em 2017, em 5,3%. "Esse é um termômetro importante,
porque indica uma melhora da taxa de juros e da própria bolsa de
valores", explica o economista.
Incerteza
Mesmo com alguns resultados mais favoráveis, Eleutério destaca que o
ambiente econômico brasileiro ainda é de muita incerteza, principalmente
no que diz respeito ao mercado de trabalho. Ele aponta que, até o setor
produtivo começar a apresentar uma recuperação mais consistente para,
então, passar a contratar mais funcionários para aumentar a produção, o
desemprego ainda deve crescer.
Outro problema diz respeito à redução da renda per capita brasileira,
que caiu 9% nos últimos quatro anos, de acordo com estimativa do
Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV).
Segunda maior queda em 116 anos, a redução faz com que a população
tenha menos poder de compra, afetando o consumo e, consequentemente, o
setor produtivo. A crise política também continua a influenciar - e
muito - o ambiente econômico. Eleutério lembra que a definição do
processo de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff, em
agosto, deve carregar o cenário durante o período.
"Além disso, temos um governo de transição que pega uma situação
difícil, com um problema sério de desequilíbrio fiscal, sem ter
encontrado ainda uma solução para o curto prazo. Além de existirem
vários agentes no governo comprometidos com desvios. É um caldo grosso
que ainda permanece", analisa.
Carga tributária
Mesmo com o avanço, muito ainda se pode perder com políticas
equivocadas. Na avaliação do economista, o aumento da carga tributária,
por exemplo, terminaria por contrair ainda mais a atividade econômica
por diminuir a renda líquida da população, assim como sua capacidade de
consumir ou de investir.
"Mais impostos ainda podem gerar mais inflação, devido ao repasse dos custos para o consumidor", pontuou Eleutério.
O governo interino de Michel Temer não descarta a possibilidade de
aumento de tributos para cobrir o déficit das contas públicas e cumprir a
meta fiscal de 2017. Para Eleutério, em um momento de fragilidade
econômica, a medida contribuiria para elevar ainda mais o desemprego e
geraria um impacto ainda mais negativo sobre a economia brasileira.
"Aumento de impostos têm efeito inibidor das formações de novos
negócios".
Nas próximas páginas, representantes de cada segmento do setor
produtivo - indústria, construção civil, comércio e agronegócio - do
Ceará apresentam sua visão do que será o segundo semestre deste ano.
Sem um caminho completamente determinado, os passos para a retomada do
crescimento econômico, sejam ou não certeiros, estão sendo dados neste
exato momento.
Diário do Nordeste
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