Os meios encontrados pelos traficantes de drogas para injetar produtos
entorpecentes no Ceará têm se tornado vastos e cada dia mais complexos,
além de ousados. Conforme apuração do Ministério Público Federal (MPF),
baseado em investigações da Polícia Federal (PF), há indícios de agentes
fiscalizadores do Estado que recebem propina para facilitar a passagem
de veículos carregados de produtos ilícitos.
A Polícia Federal, inclusive, instaurou inquérito e investiga, pelo
menos, dois fiscais da Secretaria da Fazenda do Estado do Ceará
(Sefaz-CE). Eles teriam recebido R$ 30 mil para liberar em um posto de
fiscalização um caminhão com mais de duas toneladas de maconha oriunda
do Paraguai, com destino a Fortaleza.
A reportagem teve acesso à denúncia que o MPF encaminhou à Justiça
Federal quando do julgamento de uma quadrilha, presa pela PF em setembro
de 2014 no Barroso, Grande Messejana, em Fortaleza. Em depoimento, os
acusados confessaram terem efetuado o pagamento da propina a dois
servidores estaduais lotados no posto de fiscalização de Aracati, a
150Km da Capital. A quadrilha trazia a droga do Paraguai em um caminhão
baú. Disfarçado de entrega de alimentos, o veículo escondia 136 pacotes
de maconha que, após pesados, somaram 2,5 toneladas da droga.
Segundo o processo, o trabalho de investigação da PF levou à
interceptação do caminhão por volta das 22h de 22 de setembro de 2014,
na Rua Rosa Beatriz, Bairro do Barroso. Em meio à carga de maconha,
segundo a PF, havia ainda uma pistola Glock 17C, calibre 9mm e munições,
todas de uso restrito.
De acordo com as apurações, o veículo foi parado no Posto Fiscal de
Aracati por volta das 9h daquele dia. Dois funcionários mandaram o
motorista encostar o caminhão e abrir o baú. Ao averiguar a carga, os
fiscais teriam localizado a maconha.
Entretanto, ao invés de acionar a Polícia e reter os suspeitos que
trafegavam com a droga, os funcionários do posto teriam exigido a
quantia de R$ 30 mil como propina para a liberação do material
irregular. Por volta das 18h daquele dia, dois membros da quadrilha
teriam chegado ao posto com o valor e obtido, assim, a liberação do
carregamento de entorpecente. Conforme a denúncia, após o recebimento da
propina, "um dos funcionários do posto fiscal que realizou a vistoria
no caminhão chegou com a nota e liberou a saída do veículo do pátio".
O veículo seguiu viagem até ser interceptado pela equipe da Polícia
Federal quando se aproximava de um galpão. No ato da deflagração da
operação, seis homens foram presos. O suspeito de ser o comprador do
material e chefe do bando de traficantes internacionais de entorpecentes
foi capturado no dia seguinte.
Presos
Vinham no caminhão Daniel Lauzat Ferreira, 33, paranaense e que era o
motorista do veículo, e Mário César Braga Florêncio, 27. Dando apoio em
uma Toyota Hilux estavam o potiguar Francisco das Chagas de Medeiros
Júnior, 33, e o paraguaio Pastor Florêncio Cabral Gimenez, 45.
No local onde a droga seria entregue foram capturados o paulista
Lineker Fabrício da Silva, 33, e José Wilson Honorato Araújo, 36.
Somente no dia seguinte, o paranaense David de Oliveira Gonçalves, o
'JJ' ou 'DVD', 27, que era o principal alvo da ação, foi detido.
Em agosto do ano passado houve o julgamento da quadrilha. Todos os
envolvidos foram condenados a mais de dez anos de prisão. Dos seis
acusados, cinco cumpriam a pena na Unidade Prisional Agente Luciano
Andrade Lima, antiga CPPL I, em Itaitinga e um na Penitenciária
Francisco Hélio Viana de Araújo, na Pacatuba. Em março deste ano, Pastor
Florêncio fugiu misteriosamente da CPPL I.
Diário do Nordeste
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