
Semana passada, a Associação
Nacional dos Delegados da Polícia Federal (ADPF) criticou a medida e
afirmou que a redução no valor previsto colocaria sob risco
investigações em curso, como a Operação Lava Jato, que apura corrupção
na Petrobrás.
Muitos delegados, irritados e perplexos, dizem
acreditar que a instituição foi alvo de uma retaliação por causa da
ofensiva sem precedentes da Operação Lava Jato, que mira em deputados e
senadores.
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, voltou a
rebater a possibilidade de que o orçamento afete as apurações, mas
admitiu que buscará uma solução para evitar o corte. “Quem conhece a
elaboração do Orçamento sabe que os recursos serão assegurados ou por
meio de portaria do Ministério do Planejamento ou por realocação interna
do próprio Ministério da Justiça”, afirmou.
Segundo ele, “a
Polícia Federal tem sido total prioridade do Ministério da Justiça”.
“Esse é o compromisso que temos e que todos conhecem. Jamais faltará
verba para a Lava Jato ou qualquer outra operação ou projeto estratégico
da Polícia Federal.”
Os delegados argumentam que a redução de
verba pode afetar gastos com diárias e passagens de policiais deslocados
para cada uma das grandes operações feitas pela PF. Além disso, relatam
que há casos de policiais deslocados para funções administrativas e não
mais investigativas, por causa da redução do quadro de funcionários.
“A
categoria enxerga o corte como um desprestígio”, afirmou o presidente
da ADPF, Carlos Eduardo Sobral. Segundo ele, o encolhimento do orçamento
dos policiais ocorre desde 2010. Em carta publicada pelo Estado, a
associação falou em “nítida e grave situação de desmonte da PF” e
creditou o arrocho orçamentário ao governo federal. “Restará
impossibilitada de cumprir, com a mesma eficácia que a população se
acostumou a ver, suas investigações e demais atividades policiais”,
escreveram os delegados.
A delegada de Polícia Federal Tania
Fernanda Prado Pereira avalia que a reação da categoria ao corte de R$
133 milhões ‘surtiu resultado’. “A medida do Ministério da Justiça é
reconhecimento do erro do governo de cortar nosso Orçamento”, disse.
Tania
é diretora regional em São Paulo da Associação Nacional dos Delegados
da PF e uma das articuladoras da mobilização da categoria contra o que
classifica de ‘sucateamento’ da corporação. Ela participou nesta
terça-feira, 5, de uma reunião, em Brasília, na sede da entidade, para
discutir o corte no orçamento da PF.
Tania destacou que a classe
‘aguarda que a Polícia Federal tenha a mesma estrutura que já teve há
alguns anos’. A delegada considera que ‘ essa sinalização do Ministério
da Justiça é um primeiro passo’. Para José Eduardo Cardozo, as críticas
da associação não passam de “factoides”.
O Ministério da Justiça
argumenta que não houve redução do orçamento dos policiais de 2015 para
este ano. Segundo a pasta, mesmo com a previsão do corte, a PF terá
garantidos R$ 938 milhões para este ano com despesas discricionárias –
usadas exatamente em gastos diversos, como os empregados em
investigações. No ano passado, o mesmo valor correspondia a R$ 927
milhões, segundo o ministério.
Segundo o governo, não há nenhum
risco para o andamento das investigações com o corte previsto, mas,
mesmo assim, haverá diálogo com o Planejamento para garantir crédito
suplementar ao órgão. A alegação do Ministério da Justiça é de que a
diminuição do valor total partiu do Poder Legislativo.
O
relator-geral do Orçamento de 2016, deputado Ricardo Barros (PP-PR),
argumenta que todos os órgãos públicos tiveram cortes. Ele citou o fato
de que, no caso da PF, o corte foi de 3,7%. “Portanto, absolutamente
natural, não foi tratado de forma diferenciada”, disse. O Judiciário da
União, diz, teve corte médio de 5% e o Ministério Público da União, de
1,9%, em razão da Lava Jato.
Barros negou qualquer retaliação à
PF. “Se a gente não corta é porque está com medo, se corta, está com
medo que eles investiguem. Qualquer solução tem reclamação, acho que
eles estão bem tratados dentro dos cortes gerais do orçamento”, disse.
No
Ministério do Planejamento, a discussão para recompor os valores no
orçamento por meio de créditos suplementares só deve ocorrer após a
sanção presidencial do texto aprovado no Congresso. A data-limite para
que a presidente Dilma Rousseff sancione o Orçamento é 14 de janeiro,
segundo o Planejamento.
MSN
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