Pesquisa revela baixo índice de endividamento das Empresas.

Os negócios de impacto social no Brasil têm baixo índice de endividamento, embora estejam em fase inicial e com dificuldades de geração de caixa. Entre os empreendedores entrevistados, 67% não possuem dívidas; 26% possuem poucas/equacionáveis; 6% estão moderadamente endividados; e apenas 2% estão muito endividados. O baixo endividamento não é uma boa notícia; reflete, na verdade, a forte limitação da oferta de crédito para as startups. Quando o tema é investimento, 42% dos empreendedores receberam um aporte adicional nos últimos cinco anos, sendo que 18% do dinheiro veio do apoio de parentes e amigos; 7% de empresas privadas nacionais; 6% de aceleradora/incubadoras; 6% de investidores-anjo; e 2% de fundos privados nacionais, empresas estrangeiras e bancos. A novidade fica por conta de 4% de startups que obtiveram um investimento via crowdfunding – modalidade de financiamento coletivo que tem democratizado o acesso de investidores a startups.
Os investimentos recebidos pelas startups de impacto foram direcionados para o desenvolvimento de produtos e serviços (25%), além do aperfeiçoamento do modelo de negócios (17%). Marketing e estratégia foram apontados por 11% como destino do investimento; 10% para expansão da capacidade de produção; 9% para ampliação e qualificação da equipe de profissionais; 5% para a melhoria da condição financeira do negócio; 5% para a expansão regional; e 3% para outras finalidades.
Essas são algumas das conclusões da pesquisa Empreendedores de Impacto, coordenada pela ARTEMISIA – organização pioneira no Brasil no fomento e disseminação dos negócios de impacto social – e conduzida pela empresa Din4mo, Inovadores de Impacto. O levantamento foi desenhado por ambas organizações com o objetivo de traçar o perfil das startups e de 1.200 empreendedores, que corresponde a uma parcela de negócios analisados no programa de aceleração da ARTEMISIA, no período entre 2011 e 2015. No levantamento, baseado na coleta de dados online com entrevistas individuais com 15% da base, é possível entender o estágio do desenvolvimento destes negócios; as principais demandas dos empreendedores relacionadas ao processo de aceleração; e a percepção que têm sobre o impacto social de suas startups.
Em relação à expectativa de investimentos pretendidos pelos empreendedores de impacto, a principal demanda é por seed (capital semente): 85% esperam captar recursos nos próximos cinco anos, sendo que para 58% dos entrevistados, a demanda é por capital inferior a R$ 1 milhão. Para 23% o ideal seria um aporte entre R$ 101 mil e R$ 300 mil; 4% almejam entre R$ 5 milhões e R$ 20 milhões; e 2% acima de R$ 20 milhões. Interessante registrar que 7% dos empreendedores entrevistados não sabem a quantia adequada às necessidades da empresa. O levantamento mostra que 69% dos empreendedores são homens e 31% mulheres; 58% dos entrevistados possuem pós-graduação; e 80% têm superior completo. A maioria dos negócios tem pequeno porte (68%) – até quatro funcionários; 32% têm entre cinco funcionários ou mais; 19% até nove funcionários; 12% até 19 funcionários; e apenas 1% até 49 funcionários. A média é de 10 funcionários.
Negócios & impacto social
Atuação social que gera lucro, empregos e inovação tecnológica. O que parecia uma novidade há uma década, constitui hoje uma forte tendência da economia nos países emergentes. Na prática, os negócios de impacto social se baseiam em um modelo composto por empresas que oferecem, de forma intencional, soluções escaláveis para problemas sociais da população de baixa renda.
Perfil do negócio
- A análise do tipo de organização revela que os negócios de pessoas físicas respondem por parte importante dos entrevistados (22%), embora a sociedade limitada (57%) é o tipo predominante. Na avaliação, 7% são negócios geridos por microempreendedor individual; 4% sociedade civil sem fins lucrativos; 3% são OSCIP; e 3% sociedade anônima. Cooperativa, microempresa, empresa individual de responsabilidade limitada e sociedade por cota de participação respondem por 4%.
- Sobre o ramo de atuação, as áreas de saúde, educação e formação profissional são destaque, embora a heterogeneidade seja elevada: 22% – serviços na área de educação básica; 10% – serviços voltados para a formação profissional; 10% – serviços de saúde; 7% – serviços voltados à intermediação e contratação de mão-de-obra; 4% cada – educação financeira ou acesso financeiro, produtos de consumo, serviços voltados para melhorar a ação governamental e ampliar a cidadania; serviços de apoio a pequenos produtores (3%); comércio varejista (3%); e produtos para as áreas de saneamento e meio ambiente (2%). Observa-se a nítida presença do segmento de serviços sociais, mas menor participação do setor financeiro.
- Ainda sobre o ramo de atuação, em “outros”, a pesquisa mostra que 25% dos empreendimentos possuem produtos voltados para as seguintes áreas: acessibilidade para as pessoas com deficiência, acessibilidade e mobilidade urbana; aplicações com streaming; aplicativos mobile; aprendizado musical; captação de recursos; comunicação; confecção e comércio de acessórios esportivos; consultoria; idiomas; desenvolvimento local; marketing e soluções sustentáveis; artesanato e produtos para o mercado; energia; equipamento de prestação de serviço; equipamento para área de resíduos sólidos; cultura/entretenimento; games; indústria; desenvolvimento de microindustriais; integração de estudantes estrangeiros; marketing digital; marketing e pesquisa; música; primeira infância; serviço da área de educação superior; serviço de apoio à cidadania; apoio ao microempreendedor; serviços socioambientais; tecnologia de colaboração (crowdsourcing e crowdfunding); e acessibilidade audiovisual.
- A tecnologia exerce um papel fundamental nos empreendimentos de impacto; 59% dependem diretamente da internet e aplicativos para distribuir serviços; 34% usam a internet apenas para comunicação e relacionamento com clientes; e 7% não dependem da tecnologia da informação para atuar.
- A maioria dos entrevistados tem sede em São Paulo (52%); a maior concentração está no Sudeste (79%). Nordeste concentra 39%; 38% estão no Sul; 29% Norte; 29% Centro-Oeste; 14% de outros países; e 6% América Latina.
- A maior parte dos entrevistados se inscreveu no programa Aceleradora entre 2014 e 2015, mostrando a expansão da iniciativa de aceleração da ARTEMISIA. No último ano, diminuiu a participação de empreendedores com superior incompleto: em 2013 eram 16%; 2014 (25%); e 2015 (17%). Neste ano, 61% dos inscritos têm superior completo e 22% mestrado ou doutorado.
Estágio de desenvolvimento
- Entre o momento da inscrição no programa Aceleradora e o atual, os empreendedores relataram avanços significativos nos projetos: 43% dos entrevistados, na inscrição, tinham apenas o conceito do negócio ou uma empresa em estágio pré-operacional sem o produto no mercado; hoje, 48% declararam que a empresa está em fase comercial – produto testado, em fase inicial de lançamento ou com produtos plenamente lançados. Apenas 5% declararam que o negócio foi descontinuado ou fechado.
- Metade dos entrevistados declararam alguma evolução (51%); 42% afirmam que permanecem na mesma situação. Esse aspecto evidencia a dificuldade de desenvolver os negócios rapidamente. Os profissionais com maior nível de instrução são os mais críticos na avaliação do desenvolvimento do projeto. Entre os entrevistados com superior incompleto, 9% tiveram negócios que foram descontinuados ou fechados; 63% avançaram; 6% regrediram; e, na mesma situação, 22%.
- Entre os motivos da interrupção, 5% creditaram à falta de recursos. A grande parte, 17% afirma que o produto funcionou, mas faltaram recursos. Entre os entrevistados, apenas um voltou ao mercado de trabalho como funcionário; os demais continuam empreendendo um negócio próprio. A pesquisa mostra que avançar é mais difícil nas fases de validação – do protótipo para o lançamento; do lançamento à expansão.
Condições operacionais
- Apesar de vários negócios terem tração, a geração de receita é um problema significativo; para 24% dos entrevistados, os modelos de comercialização pela internet colocam desafios para a geração de caixa.
- Na visão de futuro dos entrevistados, os segmentos que ganharão participação serão os do consumidor final e governo. No caso dos clientes, o crescimento será de 36% para 52% em cinco anos – na percepção dos entrevistados. O segmento “governo” deve crescer de 5% para 10% em cinco anos; para 28%, a venda para empresas privadas permanecerá.
- A restrição do número de clientes pagantes condiciona o porte do negócio; por consequência, a evolução da empresa é claramente influenciada pela capacidade do negócio gerar receita. Grande parte dos entrevistados tem baixo endividamento, embora estejam em fase inicial do negócio e com dificuldades de geração de caixa. Entre os entrevistados, 67% não possuem dívidas; 26% possuem poucas/equacionáveis, 6% estão moderadamente endividados; e apenas 2% muito endividados. O baixo endividamento reflete a forte limitação da oferta de crédito para esse segmento.
- De acordo com o levantamento da ARTEMISIA/Din4mo, o endividamento é menor entre as organizações com menos funcionários e entre as geridas por empreendedores com mestrado e doutorado. Entre os empreendedores com superior incompleto, 62% não têm dívidas, 31% têm poucas dívidas/equacionáveis e 7% estão moderadamente endividados. Entre aqueles com superior completo, 66% estão sem dívidas, 26% com poucas e 6% moderadamente. Na análise de empreendedores com mestrado ou doutorado, 74% estão sem dívidas, 19% têm poucas e 3% estão moderadamente endividados.
Principais necessidades
- Quando o tema é investimento, 42% dos entrevistados receberam algum tipo de investimento adicional nos últimos cinco anos – oriundo, em especial, de parentes ou amigos (18%); empresas privadas nacionais (7%); aceleradoras/incubadoras (6%); investidores-anjo (6%); crowdfunding (4%); fundos privados nacionais, empresas estrangeiras e bancos, 2% cada. Uma parcela de 11% recebeu investimento de outras fontes: CNPQ, Fapemig, Fapesc, Tecnova, Sebratec, doação, escambo com empresas semelhantes, fundação sem fins lucrativos, governos estrangeiros, leis de incentivo à cultura, ONGs.
- Os investimentos recebidos foram direcionados para o desenvolvimento de produtos e serviços (25%), além do aperfeiçoamento do modelo (17%). Marketing e estratégia foram apontados por 11% como destino do investimento; 10% para expansão da capacidade de produção; 9% para ampliação e qualificação da equipe de profissionais; 5% para a melhoria da condição financeira do negócio; 5% para a expansão regional; e 3% para outras finalidades.
- No que diz respeito ao investimento pretendido, a principal demanda é por seed money (capital semente); 85% esperam captar recursos nos próximos cinco anos – sendo que para 58% dos entrevistados, a demanda é inferior a R$ 1 milhão.
- A demanda para 23% é de investimento entre R$ 101 mil e R$ 300 mil; 19% entre R$ 1 milhão e R$ 5 milhões; 16% até R$ 100 mil; 15% de R$ 301 mil a R$ 1 milhão; 4% entre R$ 5 milhões e R$ 20 milhões; e 2% acima de R$ 20 milhões. Interessante registrar que 7% dos empreendedores entrevistados não sabem a quantia adequada às necessidades da empresa.
- A questão comercial é um problema de grande relevância na percepção do empreendedor – o que não significa que os negócios, em sua totalidade, não estejam prontos para ir ao mercado. Entre as áreas mais importantes a desenvolver, na percepção do empreendedor, destaque para apoio à área comercial e marketing (54%); desenvolvimento de produto e serviço (44%); lançamento inicial do produto no mercado (33%); desenvolvimento do time de profissionais (27%); e equacionamento da situação financeira do negócio (24%).
Impacto social e opinião dos entrevistados
- A amostra é dividida quanto à percepção desses empreendedores em relação ao impacto social dos próprios negócios. Para 30%, o negócio ainda não possui impacto; outros 30% acreditam que haja larga escala; 25% que o impacto se dê em pequena escala; e 16% em escala moderada. O impacto declarado é maior entre os negócios de maior porte e entre aqueles liderados por pessoas com menor escolaridade.
- Entre os empreendedores com mestrado ou doutorado, 39% não enxergam impacto no negócio, 26% em pequena escala, 19% em larga escala e 16% em escala moderada. Entre os com superior completo, 31% enxergam que há potencial em larga escala, 29% não veem impacto, 27% em pequena escala e 13% em escala moderada. A percepção entre os empreendedores com superior incompleto: 35% não veem impacto ainda, 28% escala moderada, 21% em pequena escala e 17% em larga escala.

Fonte: Printec Comunicação

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