Construído no ano de 1983, sobre os leitos dos
riachos Jaburu e Pitanga, entre os municípios de Tianguá e Ubajara, na
Serra da Ibiapaba, o Açude Jaburu I, que tem capacidade para
136.760.000m³, opera atualmente com 19,35% de seus recursos, segundo
dados da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), o que pode
gerar colapso iminente no abastecimento de água de toda a região, com
seus 350.000 habitantes, distribuídos em 9 municípios, segundo
lideranças sociais.
Preocupado com a questão, o Conselho de Desenvolvimento Regional da
Ibiapaba (Conderi), formado por 33 conselheiros, juntamente com
representantes de movimentos sociais, voltaram a debater a questão em
Ubajara, nessa terça-feira (13), em mais um, de uma série de encontros
já realizados sobre o tema, neste ano.
A ideia é estimular a discussão com participação, dessa vez, do poder
público, da sociedade civil e do Poder Judiciário, por meio das
promotorias da Ibiapaba. "Resolvemos convidar o Poder Judiciário para
vermos se algo pode ser feito, pois todas as reuniões anteriores com a
participação de membros da Cagece, Cogerh, Sohidra e demais órgãos
responsáveis pela manutenção do açude, em nada resultaram. Nenhuma
medida, que seja preventiva, foi tomada", afirmou Glauber Augusto Lira
Sousa, presidente do Conderi.
O objetivo é tentar pressionar esses órgãos para que reajam à questão,
antes que venhamos sofrer um colapso no ano que vem, pois segundo a
Cogerh, em julho tínhamos 118 açudes com volume abaixo de 30%; mas o
levantamento feito no dia 9 deste mês, aponta que esse índice mudou para
123 açudes abaixo desse volume no Ceará", disse.
Evolução
O índice de evolução de recarga de água do Jaburu I, analisado entre os
meses de março e agosto, demonstra pequeno aumento e queda gradativa no
volume da barragem com 21,7% (março), seguido do aumento de 2,87%, de
volume após 47 dias com registro de chuvas eventuais, resultando em
24,84% (maio); seguido de baixa para os mesmos 21,97% (agosto) de volume
apresentado em março, e agora com índice bem abaixo de 20%. Ainda de
acordo com os dados da Cogerh, os reservatórios do Estado já registram
média de 15,3% de volume.
E as estimativas da Companhia para o início de 2016 não são nada
animadoras, pois apontam que até fevereiro do próximo ano, o volume do
Jaburu chegue a 13%.
Distribuição
O perímetro irrigado da Serra da Ibiapaba concentra 1.299 hectares de
área, com 151 irrigantes, o que corresponde a 55% da destinação total da
água ofertada. Outros 44,2% são referentes ao atendimento domiciliar,
seguido de 0,5% destinados à indústria, 0,4% para uso doméstico, de
consumo animal, e praticamente nada é liberado de volta para o rio.
Segundo o Comitê de Bacias Hidrográficas da Serra da Ibiapaba, formado
por membros de dez municípios, compreendidos numa área de 5.987,75km²,
com redes de drenagem dos Rios Jaburu, Pejuaba, Arabê, Jacaraí,
Catarina, Piranji, Riacho da Volta, Riacho da Pinga e Inhuçu, a região
trabalha com o seguinte cenário acordado em reunião, que libera, de
meados de julho deste ano até o início de fevereiro de 2016, a vazão de
611 litros por segundo para atender a demanda por água, levando em
consideração a projeção do nível futuro de 13% de volume.
A redução tem sido 480 litros por segundo para 336 L/S (-30%) para
irrigantes, 284 L/S para 270 (-5%) para o atendimento da Cagece,
enquanto o abastecimento de água para a indústria tem se mantido em 3
L/S, além do uso doméstico e manutenção dos animais, que segue em 2,2
L/S ofertado.
O encontro, que reuniu cerca de 100 pessoas, entre secretários
municipais, vereadores, representantes de sindicatos, de associações,
professores e estudantes, teve como participantes Judite Araújo,
presidente do Comitê de Bacia Hidrográfica da Ibiapaba, Padre Lusmar
Sousa, representante da Diocese de Tianguá, Marcelo Cochrane, promotor
do Ministério Público do Ceará (São Benedito), Liliane de Carvalho, do
Movimento Ibiapabano de Mulheres, e Glauber Lira, presidente do Conselho
de Desenvolvimento Regional da Ibiapaba (Conderi).
Encaminhamentos
Para o promotor Marcelo Cochrane, "após essas discussões levaremos um
documento com o levantamento das ações a serem tomadas, aos
representantes de cada município que compõe a Serra da Ibiapaba.
No documento, constam a real situação em que se encontra nosso
principal reservatório e algumas medidas preventivas de economia do uso
da água disponível. O MPE acompanhará essas ações por meio de cada
promotor instalado nesses municípios para que possamos obter resultados
efetivos", disse.
"Contamos agora com o apoio do MPE para que o alerta seja ampliado
junto à sociedade, para que tomemos consciência de que não podemos nos
manter calmos diante de projeções que afirmam abastecimento até meados
do ano que vem, contando com a chegada das chuvas.
Temos que levar em consideração alguns fatores climáticos como o El
Niño, que ameaça manter a falta chuvas em nosso Estado", finalizou
Glauber Lira, presidente do Conderi e articulador da reunião.
El Niño
De acordo com a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos
(Funceme), a probabilidade de o fenômeno El Niño acontecer em dezembro
próximo é de 98%, e com probabilidade de se estender em 94%, entre os
meses de janeiro, fevereiro e março de 2016, alterando consideravelmente
a circulação atmosférica prejudicando a quadra chuvosa, que tem em seu
ponto máximo os meses de março e abril. Os dados foram atualizados pela
Agência Oceânica e Atmosférica (Noaa), dos Estados Unidos, no último dia
8.
"Este quadro se parece com o que ocorreu entre o fim de 1997 e início
de 1998, quando o fenômeno se apresentou como um dos mais intensos dos
últimos anos. Tivemos impacto total de 60% abaixo da média histórica de
chuvas naquele período. O que enfrentamos agora tem proporções
idênticas, e pode comprometer bastante a recarga de nossos reservatórios
para os próximos anos", explicou Raul Fritz, que é meteorologista da
Funceme. E alertou, ainda: "mas isso são probabilidades, então, em se
tratando de clima, tudo pode acontecer".
Diário do Nordeste
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