O Açude Araras, construído em 1958, nem
de longe lembra a colossal barragem, com 1.000.000.000 m³ de capacidade
de armazenamento. Hoje, tem menos de 8% desse total. A Prefeitura cavou
dez poços nas localidades vizinhas. O atendimento por carros-pipas terá
reforço do Exército, com a aquisição de mais dois desses veículos, que
retirarão água do Açude Taquara, a 48 quilômetros da cidade. Apesar das
medidas, a população, por conta própria, cavou mais 50 poços em busca de
água. A vazão, porém, tem sido insuficiente para o abastecimento.
De acordo com Rocineuda Ferreira Pires, secretária de Agricultura,
"apesar da escavação de poços, e da tentativa de encontramos água, os
agricultores familiares têm sentido queda de 40% de sua produção,
destinada ao Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), de acesso à
alimentação e incentivo à agricultura familiar e ao Programa Nacional de
Alimentação Escolar (PNAE), o que nos deixa sem saída para ações mais
efetivas, a não ser esperar pelas chuvas de dezembro", disse.
Fruticultura
Varjota faz parte do Comitê da Bacia Hidrográfica do Acaraú, que mantém
14 açudes públicos gerenciados pela Companhia de Gestão dos Recursos
Hídricos (Cogerh), abastecendo outros 27 municípios. Tem no Perímetro
Irrigado Araras Norte, localizado a 5 quilômetros da sede, o carro-chefe
de sua economia, com forte apelo para a fruticultura, que gerava em
média R$ 8 milhões por ano.
O perímetro, de responsabilidade do Departamento Nacional de Obras
Contra as Secas (Dnocs), possui 37 quilômetros de canais que rasgam a
terra até alcançar cinco estações de distribuição de água, construídas
para irrigar 1.030 hectares de área cultivável, que hoje, não passam de
250.
Depois do fechamento gradativo das comportas do Araras, finalizado em
março deste ano, o perímetro passou a receber apenas 170 litros de água
por segundo, o que equivale a duas horas e meia de abastecimento,
quantidade insuficiente para minimizar o colapso da falta d'água nos
lotes. Para o secretário de Recursos Hídricos de Varjota, Raimundo Gomes
Filho, "o que as famílias de irrigantes estão recebendo de água, por
dia, é apenas para eles não abandonarem os lotes, porque não dá para
nada", afirmou.
A produção de banana responde por 60% do cultivo de frutas, seguida da
goiaba (20%), do mamão (10%) e do coco (10%), chegava a 40 toneladas por
hectare, em períodos de boa safra, comercializada principalmente na
Serra da Ibiapaba (região Norte). Segundo os produtores, a perda deste
ano foi total, pois mesmo os poucos cachos que vingaram não atingiram a
qualidade necessária para comercialização, atraindo pragas e afastando o
comprador.
A falta de água, além de atingir diretamente a economia gerada pelo
perímetro irrigado, tem se refletido na permanência de quem depende
diretamente da água que sai da rede de canais para manter seu sustento. A
estiagem tem causado um êxodo rural nunca visto antes. Hoje, apenas 30%
das áreas de cultivo se mantêm firmes. Os outros 70% do total do
perímetro foram abandonados pelas famílias, deixando para trás os pés de
frutas, que secam até cederem à força do vento e caírem. Segundo Gentil
Fontenele, engenheiro agrônomo da Secretaria de Agricultura de Varjota,
"é triste ver as famílias abandonarem seus lotes e deixarem para trás o
investimento de toda uma vida. Isso cria outro problema que são os
roubos das propriedades que ficam sem cuidado", disse.
O produtor Francisco Teixeira Rodrigues, que há cinco anos deixou São
Paulo para investir em bananas no Ceará, é um dos poucos que permanecem
no lote, que antes produzia 2 mil caixas da fruta por mês, e na última
colheita não passou de 40 caixas. Dos oito funcionários contratados para
dar conta da demanda, três tiveram de ser dispensados. Os que ficaram
se mantêm fazendo outros trabalhos dentro da propriedade, até porque não
há o que colher. "Eu nunca vi seca como esta, aqui na região. Ainda não
desisti de lutar no meu lote, mas, se não chover, pelo menos até
dezembro, terei que deixar tudo para trás", lamentou.
Denominado Condomínio, o Distrito de Irrigação do Perímetro Araras
Norte (Dipan) pagou só de energia no mês de agosto R$ 60 mil para se
manter funcionando, ou melhor, para manter apenas as mudas que restaram
vivas. É o que afirma Odilon Brum, gerente do Dipan. "Nós estamos
pagando uma conta que não vem acompanhando a realidade de quem sobrevive
da terra. Cerca de R$ 30 mil reais dessa conta não é de demanda, não é
de consumo, pois nem produção tem mais para se cobrar uma conta dessas.
Acredito que deveríamos pagar apenas o que consumimos, mas isso não
acontece", afirma o gerente.
Dívidas
As contas adquiridas junto aos bancos para investimento, também se
acumulam nas mãos dos produtores, que não têm como saldar seus
compromissos. "Eu entreguei um documento pessoalmente à presidente Dilma
e ao ministro da Agricultura, pedindo que eles intercedam junto ao
Banco do Nordeste para a suspensão temporária dessas dívidas contraídas.
Mas até o momento não obtive resposta. O pequeno agricultor não quer
fugir de sua responsabilidade. Mas como vai pagar uma dívida, se não tem
o que comercializar?", indaga Odilon Brum.
A produtora Francisca das Chagas Rodrigues teve seu auge no cultivo de
goiabas quando, em 2012, chegou a comercializar cerca de R$ 40 mil em
duas safras. Com a perda total neste ano, ela retirou da área plantada
as mangueiras de irrigação e os guinchos, equipamentos usados no manejo
da plantação.
"Quem ainda consegue produzir algo, não tem qualidade, então essa fruta
não tem preço. Eu perdi toda a minha primeira safra deste ano. A gente
produzia 700 caixas em tempo bom, mas, nessa segunda colheita, que vai
de julho a dezembro, já perdemos 50%. Só com muita em fé em Deus mesmo
para não desistir e deixar tudo para trás".
Diário do Nordeste
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