Indústria que não demitir terá juros menores

O Governo Federal prepara um novo programa de ajuda para a indústria. A primeira medida, anunciada ontem, é a criação de linhas de crédito por bancos públicos com taxas de juros menores para quem se comprometer a não demitir funcionários. Os setores contemplados serão: automotivo, petróleo e gás, alimentos, energia elétrica, eletroeletrônico, telecomunicações, fármacos, químico, papel e celulose, máquinas e equipamentos e construção civil.

A estratégia foi informada ontem por Miriam Belchior, presidente da Caixa Econômica. O banco vai liberar cerca de R$ 5 bilhões somente para o setor automotivo. O convênio já foi assinado entre a Caixa, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) e o Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças). O Banco do Brasil também vai anunciar linhas especiais de financiamento para essas empresas hoje.

Miriam afirmou que se trata de uma política que foi discutida com várias áreas do Governo e tem como objetivo ajudar as empresas a “respirar” durante este “momento de travessia” pelo qual passa a economia brasileira.

“Foi debatido inclusive com a Fazenda. É uma posição de consenso do Governo”, afirmou a presidente da Caixa, que não quis afirmar quais seriam as outras medidas que serão tomadas, além do aumento do crédito.

Como vai funcionar
Em relação ao setor automotivo – único com convênio já assinado - serão quatro linhas de crédito. Em três delas, as prestações só começam a ser pagas daqui a seis meses, quando o Governo espera que a economia tenha começado a se recuperar, segundo a presidente da Caixa.
A primeira linha é a antecipação de recursos para fornecedores de montadoras, com juro a partir de 1,41% ao mês. As mesmas empresas contam ainda com dinheiro para despesas do segundo semestre a partir de 0,83% ao mês + TR. Nesse caso, os empréstimos contam com dinheiro da Caixa e do Fundo de Garantia de Operações (FGO).

A Caixa também vai financiar compra de máquinas novas e usadas a 1,5% ao mês com dinheiro do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). A quarta linha é para renovação de frota (transporte coletivo, máquinas agrícolas e caminhões) com dinheiro do FGTS na linha Pró-Transporte a 9% + TR ao ano.

As taxas mínimas serão aplicadas a empresas que se comprometerem a não demitir trabalhadores durante o prazo do empréstimo. O controle deve ser feito acompanhando a folha de pagamento da empresa. Em caso de demissão, o desconto na taxa de juro deixa de valer.

“Os bancos públicos estão trabalhando para dar condição para todas as cadeias produtivas. Vamos reproduzir o modelo do setor automotivo em outros setores”, disse Miriam, apesar de ainda não ter havido assinatura de convênio nem anúncio oficial das medidas para outros setores.

Ela também informou que as negociações com a Construção Civil estão mais adiantadas e que, hoje, se reuniria com a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic).

O uso dos bancos públicos para financiar o setor produtivo fez parte da política de incentivo ao crescimento adotada entre 2008 e 2014, abandonada e criticada pela atual equipe econômica, em especial pelo Ministério da Fazenda e pelo Banco Central. (com agências)
Saiba mais

Plano de Proteção ao Emprego
Além dos juros mais baixos para as empresas que não demitirem, está em vigor o Plano de Proteção ao Emprego (PPE), sancionado no último dia 6.

Por meio dele, as empresas podem reduzir a jornada do trabalhador, não precisando recorrer à demissão.

O Governo, via Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), subsidia 50% da redução salarial, dando suporte ao empresário na redução de custos e ao trabalhador, diminuindo impacto financeiro de adequação do salário a uma jornada menor.

Os custos aos cofres com pagamento de benefícios como o Seguro-Desemprego são mais elevados do que subsidiar parte de uma redução salarial, que vem acompanhada de uma redução de jornada.

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