O presidente da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos
(Funceme), Eduardo Sávio Martins, afirmou, na manhã de ontem, em
entrevista ao colunista do jornal Diário do Nordeste, José Maria Melo,
que as condições meteorológicas do próximo ano podem ser semelhantes às
sentidas em 1998, ano em que o Nordeste foi atingido por uma das maiores
secas da história, registrando apenas 270 milímetros de precipitações.
"O aquecimento do Oceano Pacífico tem persistido em alta, o que afeta
diretamente o El Niño. E essa tendência de aquecimento acende a nossa
luz vermelha, de alerta, porque vemos que o movimento está muito
parecido com o de 1997, e já existem alguns comunicados de institutos
como a Nasa (Agência Espacial Americana), por exemplo, apontando que
esse El Niño pode superar o de 1997, que gerou, em 1998, uma seca
extrema aqui no Ceará", explicou Eduardo Martins. Para ele, ainda é cedo
para dar uma previsão concreta, mas as projeções mostram que a situação
das chuvas pode ficar bastante complicada no Estado.
Segundo Eduardo, o relatório com o diagnóstico final só deve ser
finalizado no mês de outubro, mas já é preciso compartilhar a
preocupação com a população para que todos se conscientizem quanto à
utilização da água, que deve ser escassa no próximo ano. "As secretarias
e os órgãos do Governo já estão implementando medidas com esse cenário
mais pessimista. Se não acontecer (e o El Niño for embora), ótimo, mas
pelo menos nós nos mobilizamos e fomos atrás de soluções já pensando em
2016. Vamos procurar perfurar poços e construir adutoras definitivas,
por exemplo", disse.
A temperatura elevada do Pacífico é fator que pode influenciar no
surgimento do El Niño. A superfície da água, que acaba evaporando, vai
para a atmosfera e o vapor que desce no Nordeste brasileiro dificulta a
formação das nuvens. Durante o mês de julho, a Funceme chegou a observar
temperaturas que variaram entre 4 e 4,5 graus Celsius acima da média em
áreas do leste do oceano Pacífico equatorial, junto à América do Sul.
Fenômenos
Com base nisso, o órgão estima, por enquanto, uma probabilidade de 90%
de atuação do El Niño durante o período da pré-estação chuvosa, que
compreende os meses de dezembro, janeiro e fevereiro. Conforme a
Funceme, as demais condições oceânicas do Pacífico apontam uma
probabilidade de 5% de ocorrer o La Niña, fenômeno que ocorre quando as
temperaturas estão abaixo da média, e de 10% de condições neutras,
quando as temperaturas estão na média. Em ambos os casos, segundo
explica o meteorologista da Funceme, Leandro Valente, as condições para o
surgimento de chuvas seriam boas.
Ele esclarece que o fator determinante para a qualidade de chuva são as
temperaturas dos oceanos Atlântico Norte e Sul, com base na Zona de
Convergência Intertropical, principal fenômeno causador de precipitações
no Estado. O meteorologista ressalta que as temperaturas do Atlântico
têm uma variabilidade grande ao longo do ano e, em janeiro, é quando a
situação está melhor definida. "Por isso, o primeiro prognóstico é
sempre em janeiro, pois a gente já consegue ter uma previsão melhor de
como a Zona de Convergência vai se comportar durante a quadra".
FIQUE POR DENTRO
Registrado no 1º semestre fica 30,5% abaixo
As chuvas registradas entre janeiro e julho de 2015 não foram
suficientes para alcançar a média histórica do período, estimada em
759,1 milímetros. Com o registrado de 527,1 mm, as precipitações ficaram
30,5 % abaixo do parâmetro, conforme dados da Funceme. O volume dos
sete meses, no entanto, foi o mais alto dos últimos quatro anos, um
aumento de quase 38% em relação a 2012.
De fevereiro a maio, choveu apenas 424,6 mm no Estado, quando o
esperado era de 607,4 mm, tendo como base a climatologia histórica
(1980-2009). A estimativa de chuvas ainda neste ano, segundo as médias
históricas mensais, é de 4,9 mm (agosto), 2,3 mm (setembro), 3,1 mm
(outubro), 6,3 mm (novembro) e 29,2 mm (dezembro).
Diário do Nordeste
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