No quarto ano seguido de estiagem, a falta de água para o plantio nos
perímetros irrigados atinge a maioria dos projetos públicos instalados
no Ceará. Com açudes em volumes críticos, a prioridade do que resta vai
para o abastecimento humano no Interior, encerrando ou racionando as
quantidades de água liberadas para os sistemas coletivos de irrigação.
Dos 14 perímetros irrigados, oito estão sem água, enquanto ainda há
operação nos seis restantes, segundo o Departamento Nacional de Obras
contra a Seca (Dnocs). Quem ainda recebe água dos reservatórios enfrenta
racionamento e desafios.
O órgão lista três perímetros com funcionamento normalizado. Dois
deles são o Tabuleiro de Russas e o Jaguaribe-Apodi, que começaram a
receber 25% da água a menos neste mês. O terceiro é o Icó-Lima Campos,
com água suficientes até Setembro.
A restrição para os dois
primeiros foi definida em reunião do comitê da Bacia do Baixo Jaguaribe
no dia 2 de julho. No encontro, a vazão do açude Castanhão foi restrita a
22 m³/segundo - redução significativa em relação ao mesmo período de
2014, com vazão de 28 m³/segundo para o açude, compara Ubirajara
Patrício, diretor de Planejamento da Companhia de Gestão dos Recursos
Hídricos (Cogerh).
As decisões sobre a água que chega aos
perímetros leva em conta o contexto dos vales perenizados no Ceará, como
os vales dos rios Jaguaribe e Curu. As simulações incluem irrigações
privadas, de fora dos projetos, abastecimento da população e usos
diversos da água dos reservatórios. Nas áreas de plantio, as restrições
são maiores para culturas e técnicas que utilizam mais a água. Como
exemplo, as plantações de arroz, a criação de camarões em viveiros e as
irrigações por inundação, cita Ubirajara.
O perímetro Icó-Lima
Campos tem operações normalizadas apenas em uma das duas zonas do
projeto. Segundo Bevenides Nunes, secretário de Políticas Agrícolas do
Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Icó (STTR), a Zona
1 ainda consegue produzir frutas e arroz pela proximidade do açude Lima
Campos. Com canais precários e obra de canalização parada desde o ano
passado. A Zona 2 não recebe água bombeada há pelo menos oito anos,
afirma, deixando de levar o recurso a produtores de cinco conjuntos
habitacionais.
No perímetro do Jaguaribe-Apodi, o faturamento
bruto no ano passado foi de R$ 95 milhões. Com restrição das águas do
Castanhão iniciada neste mês, a única certeza é de que o número tende a
cair em 2015. Os principais produtos abastecem as regiões Norte e
Nordeste, como capim, milho verde e semente de soja. A cultura perene da
banana também é vendida para Rio de Janeiro e São Paulo. “Certamente
não daremos conta da demanda, principalmente por forragem animal”,
antecipa Karlos Welby, gerente executivo da Federação dos Produtores do
Projeto Irrigado Jaguaribe-Apodi (Fapija). Os efeitos são preços mais
caros ao consumidor e prejuízos para os produtores.
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