Seca, sucateamento e corrupção. O drama do Sertão Central.

Corte de 450 técnicos da Ematerce prejudica programas de convivência com a seca. No Sertão Central, problemas se agravam por causa de corrupção e sucateamento.

 

Canindé, no Sertão Central cearense (a 118 quilômetros de Fortaleza) retrata o cenário dramático da seca no interior do Ceará. E não é só pela chuva escassa destes últimos quatro anos. No pátio da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará, a Ematerce, seis carros e duas motos esperam há meses por combustível. Também estão avariados ou com documentação irregular. E tem mais: além de denúncias de corrupção, a empresa também padece com o corte no quadro de pessoal. Em janeiro passado, o Governo do Estado demitiu 450 técnicos - oito dos quais do escritório de Canindé.

A conta é do coordenador interino, Antônio de Souza Alves. Ele diz que, desde o começo do ano, a Ematerce dali trabalha com 12 funcionários a menos. Quatro servidores aderiram a um plano de demissão voluntária e oito bolsistas/técnicos de campo foram cortados. Pelo menos 1.120 famílias assistidas pela Ematerce em Canindé sofrem as consequências, com a redução do número de visitas dos técnicos para acompanhamento de projetos ou programas de convivência com a seca. Na prática, a extensão rural está praticamente paralisada. 
No papel, a Ematerce de Canindé tem que atender mais de dez mil famílias de agricultores, pecuaristas e pescadores de dez municípios da região central do Ceará: Caridade, Paramoti, Hidrolândia, Catunda, Pedra Branca, Boa Viagem, Madalena, Itatira, Santa Quitéria e do próprio Canindé.

Programas como o Brasil Sem Miséria, patrocinado pelo Governo Federal, carecem de acompanhamento e fiscalização mais eficientes. De acordo com Leônidas dos Santos Nascimento, presidente do Sindicato dos Agricultores e Agricultoras Familiares de Madalena, 1.080 famílias estão vulneráveis. Dessas, 80 são beneficiadas com o Brasil Sem Miséria. “Precisamos de assistência técnica pública. As visitas diárias agora demoram porque o que era feito por sete técnicos passou para a responsabilidade de apenas dois”, reclama.

Situação crítica
Leônidas Nascimento afirma que não entende o corte feito na Ematerce. Segundo o sindicalista, quatro anos consecutivos de estiagem e a possibilidade de 2015 ser mais um ano com chuvas abaixo da média histórica poderiam ter servido de alerta para o governador Camilo Santana (PT). “A situação no campo é crítica. O governador sabe disso. A Ematerce, com todos os problemas que tem, deveria ser prioridade. Ela é parceira na mobilização e viabilização de várias alternativas para conseguirmos atravessar as secas”.
A gerente local da Ematerce em Madalena, Maria Lúcia Vitoriano, é uma que se desdobra para conseguir suprir a falta dos técnicos demitidos em janeiro. Ela e outro servidor dividiram, meio a meio, o que há de demanda no município, que fica a 64 km de Canindé. “Antes, éramos nove, cortaram sete. Mas entendo que isso é uma medida administrativa. Há uma promessa de seleção de novos bolsistas para julho deste ano. Estamos aguardando há quase seis meses”.


Atribuições da Ematerce

Abordar e identificar produtores rurais

Fazer diagnóstico da comunidade e encaminhar soluções de convivência com o semiárido. Cada técnico atende, em média, de 100 a 120 produtores rurais

Orientação e encaminhamento de linhas de crédito para financiamento de projetos para produtores rurais

Emissão do Documento de Aptidão ao Pronaf (DAP)

Acompanhamento do programa Brasil Sem Miséria

Acompanhamento da campanha de vacinação contra a febre aftose

Assistência técnica do programa de plantação de palma forrageira, do Governo do Estado

Cadastro de produtores rurais para o programa de aquisição do milho da Conab

Acompanhamento e cadastro do Garantia Safra

Assistência especializada para o Programa do Biodiesel

Assessoramento do programa de tanques de leite nas comunidades rurais 


Fonte: O POVO

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