Após um ano, Polícia ainda não desvendou morte de Gaia.


 A Polícia ainda não respondeu à pergunta 'quem matou Gaia?', um ano depois do crime. A repercussão internacional gerada pelo caso e os polêmicos desdobramentos no apontamento aos suspeitos não foram suficientes para brevidade numa resolução final a que os investigadores foram cobrados. Hoje, a Polícia afirma que há uma nova linha de investigação. E nada mais.
Continua uma incógnita o que sucedeu horas antes de uma mulher ser encontrada na tarde de 25 de dezembro de 2014. Estava de bruços, em meio a areia e mato, com marcas roxeadas pelo corpo e um golpe incisivo na cabeça. Laudo: morte por asfixia. Era a Italiana Gaia Molinari em Jericoacoara, o paraíso turístico cearense onde 'tudo' acontece e pouco se sabe.
Nos primeiros dias seguintes à morte, a Polícia concentrou esforços em dar uma resposta às perguntas que nasceram no Serrote, uma região só acessada a pé em 'Jeri'.
A reportagem também vai ao local e refaz alguns passos da delegada. "Se a Polícia não chega tinham me matado", diz Edson Veríssimo, o primeiro suspeito apontado. Ele tem problemas mentais e é comumente visto com um estilingue parecido ao encontrado próximo ao local do crime. "Não fui eu, até o estilingue é de uma cor diferente".
Nos dias seguintes os olhos se voltam para a amiga turista que conheceu Gaia no Ceará. A prisão temporária da carioca Míriam França, farmacêutica pesquisadora em férias e que acabara de conhecer Gaia, assumiu contornos que levou grupos defensores dos direitos humanos a questionar a sua necessidade. Patrícia Bezerra, delegada responsável pelo caso, aponta "diversas contradições" de Míriam em seus depoimentos. Sobre o último momento em que teria visto Gaia e a relação de pessoas que se aproximaram delas duas, especialmente um italiano, que dá respostas diferentes sobre as afirmações de Mirian.
A delegada teme que a turista fosse embora com o caso em andamento e solicita prisão temporária. Por 15 dias, a farmacêutica carioca ocupa cela na Delegacia de Capturas.
Nos primeiros dois meses, também foram diversas as idas e vindas de Patrícia e sua equipe a Jericoacoara, repetindo buscas no local onde Gaia foi achada. Um colar da italiana, não localizado pela Perícia quando da descoberta do corpo, chegou a ser encontrado num dos retornos da Polícia Civil mais de um mês após o crime.
Nos bastidores, alguns delegados e especialistas dentro da própria Polícia questionavam o andamento das investigações, discordavam de alguns pontos conduzidos por Patrícia, mas por não acharem ético se indispor com ela seus nomes não serão aqui revelados. A delegada, por sua vez, sofria pressão de vários lados. Por uns, era acusada de prender Mírian França por ela ser negra. Nas redes sociais, já se sabia que a presa é doutoranda em Farmácia e apoiada por colegas e professores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Os protestos inflaram de tal forma que exigiam da própria delegada uma rápida resposta, senão sobre quem matou Gaia, ao menos qual a relação de Mírian no caso. A essa altura, defensores públicos que integram o Núcleo de Atendimento ao Preso Provisório (Nuapp) criam uma comissão para acompanhar o caso assistindo juridicamente a farmacêutica. Um atrito coloca em lados opostos Defensoria e Associação dos Delegados de Polícia Civil do Ceará (Adepol) e o grupo é logo dissolvido após declarações do defensor Emerson Castelo Branco dizendo ser ilegal a prisão, acusado pelos delegados de um discurso "ácido e odioso".
Patrícia tenta se distanciar da polêmica e defende que a prisão foi puramente técnica. Como se o trabalho da perícia não estivesse completo, a Polícia realiza novas buscas no entorno onde foi encontrado o corpo. O material é enviado a Fortaleza para comparação de amostras de perfis genéticos, enquanto a delegada conversa com moradores, donos de pousadas e tenta montar o quebra-cabeças. Sei deixar de ser suspeita, Mírian França é liberada da prisão temporária, mas mantém o compromisso de ficar mais 30 dias no Ceará para colaborar com as investigações.
Um dia antes de retornar ao Rio de Janeiro, Mirian concede entrevista exclusiva ao Diário do Nordeste. É a primeira vez que conta sua versão desde que saiu da prisão. "Não tive nada a ver com isso, absolutamente, nenhuma relação. Tinha muitas pessoas que estavam sendo consideradas suspeitas e eu fui a única exposta", reclama. De volta ao Rio, ela continua suas pesquisas na Universidade. "Daqui a pouco o País vai esquecer disso, esses 15 minutos vão passar rapidamente. Mas enquanto não descobrirem o que aconteceu com a Gaia, sempre vai ter a dúvida, que eu de alguma forma possa ter feito ou participado do assassinato de uma pessoa".
Nova linha de investigação
Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) designou um novo grupo de investigadores para continuar o caso, apesar de o inquérito ainda ser presidido por Patrícia Bezerra, hoje diretora adjunta da Divisão de Combate ao Tráfico de Drogas (DCTD). Rommer Kerth passa a c oordenar as ações. Ele é diretor do Departamento de Polícia Especializada (DPE).
A equipe é ainda composta pelo delegado Vicente Aguiar (Divisão Antissequestro), Danilo Rafanelle (Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa) e inspetores de várias delegacias.
Para Kerth, muitos indícios que num primeiro momento estavam obscuros apareceram no decorrer dessas investigações. "Não gostaria de adiantar muito a respeito do que temos hoje, pois são informações extremamente sensíveis e que podem vir a comprometer o resultado que todos esperam que é a elucidação do caso".

Diário do Nordeste

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